O Eco [Gióia Júnior]

O Eco [de Gióia Júnior]


O que posso fazer se, a vida, a glória fez-ma
rotineira, a ilusão não muda, é sempre a mesma?
Que fazer se o prazer é sempre essa utopia de um minuto feliz?
A maior alegria é ligeira e fugaz como uma gargalhada,
Inunda a sala e cessa e volta para o nada?
Que fazer para ter alguma recompensa?
Mecânico e fatal o eco responde: pensa

Pensar? Como pensar? Perder a mocidade
no egoísmo sem razão dessa inutilidade…
Pensar apenas? Não, teria acaso um fim,
pensar, pensar, pensar, pensar… de mim e para mim?
Esgotar a existência em um plano ilusório,
sozinho usufruir da paz de um escritório?
Quero menosprezar a vida dissoluta…
Mecânico e fatal o eco responde: luta

Lutar… Por que lutar? … Ver bandeiras ao vento,
tambores e clarins, galões e fardamentos,
ver o sangue a jorrar em vis revoluções,
ver Césares, Pompeus, Felipes, Napoleões?
Lutar… por que lutar, se essa glória que embriaga
tem o brilho na aurora e no poente se apaga?
Quero mais, muito mais… quero a brasa que inflama!
Mecânico e fatal o eco responde: ama

Amar… amei a vida e a vida é tão ingrata…
“Traz o pó que alimenta e o micróbio que mata”…
Não, de modo nenhum, permaneço na teima…
“a fogueira que acende é a mesma que nos queima”.
Amar… de que nos vale amar se o amor é vário,
se ao beijo tem sequência as dores do Calvário?
Quero fugir do mundo e procurar a calma…
Mecânico e fatal o eco responde: Alma

Alma… quando escutei essa palavra, quando
meditei, vi que havia uma força operando
além da compreensão… vi que o meu ódio acerbo
era a minha impotência ante o mando do Verbo.
Quando, porém, notei que a paz aurifulgente
está em nós firmada… algo puro, inerente
ao nosso próprio ser… chama viva e sagrada
que opera no interior sem depender de nada;

Alma… quando notei que em meu corpo carnal
morava um universo, uma essência imortal;
entreguei-me a Jesus e, firmado em seu nome,
na vivificação matei a minha fome…
Pensei… soube pensar em seu reino… lutei
sem medo de derrota ao lado do meu Rei…
Amei os meus irmãos. E agora em mim revive
a encantadora voz do eco bradando: VIVE!

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